terça-feira, 22 de outubro de 2013

Crónica de Adriana Castro (Convidada nº1)

Arte, estética, expressão...
 
Qualquer pessoa, mesmo que distante da ginástica rítmica, entende que tal desporto não estaria completo sem a componente artística que tanto o caracteriza. Não é em vão que em russo, país criador da GR, ginástica rítmica se denomina por "ginástica artística".
 
Um desporto único, com exigências altíssimas relativas ao nível de preparação física e técnica e às capacidades estéticas e artísticas das ginastas, que se funde com a arte.

No entanto, a fronteira entre a falta e o exagero, falando acerca da parte artística, é bastante ténue. Uma apresentação sem brilho, sem expressão torna-se monótona, pouco interessante, incompleta. Por outro lado, o exagero na expressão, especialmente em ginastas pouco dotadas, pode resultar num ridículo e pouco natural espetáculo. Sendo assim, cada ginasta deve encontrar em si a proporção ideal de expressão facial e corporal, transmitindo a ideia da composição e da música, usando os mais variados aspectos estéticos: leveza, postura, expressividade, precisão, amplitude, graciosidade, virtuosismo, elegância, naturalidade.
 
De uma entrevista a Vera Sesina, em que é abordada tal questão, a mesma refere que a diferença ao nível técnico é colossal entre as ginastas que ocupam os primeiros 20 lugares mundiais e as restantes. Com o objectivo de permitir às restantes ginastas aproximarem-se das líderes através da qualidade da composição, musicalidade e expressividade, foi dada atenção à parte artística, que no código de pontuação anterior era avaliada em 10 pontos, em igual proporção à parte técnica e execução. No entanto, e citando as suas palavras: "Na minha opinião, isto ainda veio piorar mais a situação. Porque, qualidade é qualidade, e ela demonstra-se em tudo. Que uma ginasta seja fraca tecnicamente e mesmo assim consiga levantar plateias, não é possível."
 
Aquilo que destaca uma ginasta de alto nível é a sua capacidade de executar os mais complexos elementos passando, para quem a assiste, a impressão de facilidade. Isto só se torna possível graças a um nível elevado de preparação técnica e física, que lhe permite o domínio total do corpo e do aparelho.
 
Outras das coisas que marcam uma ginasta é a sua capacidade de transmitir emoções e com isso interagir com o público. Usando as palavras de Melitina Staniouta, numa entrevista após o último campeonato do Mundo, a ginástica rítmica é um desporto que deve proporcionar aos espectadores emoções colossais, que os deixem com "pele de galinha".
 
Para se conseguir tal reação é necessário impressionar o público com elementos de dificuldade corporal e de aparelho de extrema complexidade, executados de forma ideal e não menos importante, ter em atenção todos os aspectos relacionados com a composição e componente artística do exercício.
 
Um dos mais importantes aspectos é a escolha do acompanhamento musical, que deverá ser adequado à idade, nível de desenvolvimento físico e técnico e capacidade interpretativa da ginasta. Cada composição deverá ser construída de acordo com a música a utilizar, ou seja, os elementos e as ligações deverão, em primeiro lugar, ser escolhidos de modo a corresponderem ao carácter, tempo, ritmo e dinâmica da música e, em seguida, organizados de modo a corresponderem à estrutura da mesma, suas partes e frases musicais.
 
A ligação entre os elementos deverá ser lógica e deve mostrar a unidade de composição, em que cada elemento dá início ao seguinte, especialmente isto deverá ser tido em atenção no que diz respeito ao trabalho de aparelho, que deve estar em movimento do início ao fim do exercício de competição. Grande influência na impressão geral da composição tem o seu início e final, ou seja, torna-se fundamental organizar os elementos de forma a criar momentos de introdução e culminação, originais e emocionais.
 
Através da forma e direção do deslocamento através do praticável a ginasta deve mostrar o carácter e a ideia da composição. Por exemplo, mudanças de direção bruscas revelam impetuosidade e força; por outro lado, as composições mais líricas e lentas não devem mostrar grandes ângulos no desenho de ocupação do espaço, usando grandes e pequenos círculos e linhas curvas.
 
Um dos componentes artísticos que distingue as ginastas de alto nível de todas as outras é a capacidade de adequar os seus movimentos ao carácter do acompanhamento musical. O ideal seria, sem ouvir a música, conseguir determinar que tipo de música a ginasta está a usar, através da posição da cabeça, tronco, braços, forma de deslocamentos, expressão facial, maneiras de utilizar o aparelho, etc.
Slide1
Para criar uma composição que impressione é preciso usar todos os meios artísticos e estéticos à disposição, e é aqui que a originalidade e a imaginação têm lugar no nosso desporto.
 
Uma vez que estes dois factores são infinitos, e que haverá sempre lugar para a inovação, não foi minha intenção, de maneira alguma, num texto tão pequeno mostrar todos os recursos e exigências artísticas da ginástica rítmica. Sendo isto um blog, e dado que estamos em época de construção de exercícios para a nova época desportiva, convido-vos a comentar este texto, adicionando ideias que podem ser úteis a ginastas e treinadoras neste processo tão exigente!
 
Adriana Castro
Outubro de 2013

3 comentários:

  1. Boa Cronica, abordaste tudo o que é importante na nossa " artística" modalidade. Parabéns

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  2. Gostei imenso do teu artigo que preenche um espaço importante na abordagem estética do mundo artístico.
    Gostava ainda de salientar que é pena o vestuário das atletas ser limitado a um estereótipo. Isso aconteceu no balet mas, hoje em dia, o balet actual já se encontra mais desinibido a este nível.
    Poderia haver abordagens mais criativas, desenvolvidas até com a colaboração de designers e artistas plásticos. Penso que se ganharia imenso na abordagem estética porque, por mim, é um pouco opaco e desactualizado esteticamente o tipo de fato que se usa. Também me parece desadequado e questionável eticamente a pintura exagerada em crianças... Parece que estão naqueles concursos de barbies a que as mães as levam e isso cheira sempre a abuso sobre menores...
    Isto não é uma crítica à teu artigo mas sim uma crítica à modalidade e que, como tal, tem de ser reflectida e discutida.
    Abraço maior. Foi um prazer Adriana ler o teu artigo.

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